Era uma vez dois mundos,um mundo vibrante, baseado nas sensações auditivas, havia muito som, muita coisa era falada, algumas puramente por diversão, outras eram ditas de forma mais profunda, exposições de pontos de vista sociológicos,alguns debates morais, por vezes simples brincadeiras verbais , apenas para testa a habilidade com o emprego das palavras, joguinhos verbais, fora os milhares de planos compartilhados através de infinitos diálogos. Conversas tais, que muitas vezes não eram feitas pessoalmente, contavam com aliados poderosos, como telefones, celulares, que providenciavam papos que varavam a madrugada, sem segredos, sem mistérios, podia passar a aparência de um mundo livre, mas não era, era sim um mundo ciente, aonde havia uma transparência natural, os pensamentos nem sempre eram aceitos, porém também não eram proibidos, pensar e expressar nesse mundo era encorajado e de forma nenhuma causava dor, mesmo que o pensamento fosse totalmente inoportuno para tal mundo.
Enquanto o outro mundo era regido pelo silêncio, som era algo raro, palavras então, quase não se ouvia, os diálogos, não eram encorajados, era um mundo da visão, apenas observar, sufocante, para as pessoas que tem um carinho especial com as palavras, ter que se calar, ter seus pensamentos presos, descobrir que meros fatos, quando ditos machucam e nem poder ao menos questionar, que se quando são ditos causam sofrimento, por que são feitos? Aprender a conviver com a arte do "isso é passado"...
Uma nova realidade, um eterno exercício, aprender a conviver com o não som, os aliados do outro mundo, são agora, praticamente, estranhos, eles ainda tocam, mas não mais com a promessa de longas horas prazerosas e sim breves instantes, como um pequeno bolhetim de ocorrência aonde o oficial já esta cansado de ouvir, mesmo antes do ansioso soldado começar a narrar os fatos. Estranhamente nesse mundo há uma aceitação, ainda que teórica, muito teoricamente, de um modo de vida mais alternativo, mais ou menos algo como "não me conte seus pensamentos...tenha liberdade para ser você", um mundo tão complexo quanto o primeiro, porém mais denso, mais pesado.
O que realmente vale a pena, poder dizer o que se pensa ou ter o pensamento aceito(teoricamente), ainda que calado???
